Friday, June 06, 2008

Thales de Azevedo lamenta destruição da "bela e antiga igreja anglicana do Campo Grande"


Coisas passadas, mesmo que não sejam muito distantes, podem parecer sem interesse para o presente...ora, pra que puxar por elas? Dirão alguns. Certo é, porém, que o presente se tece no passado e depende muitas vezes daquele. Isto me vem à mente agora desde que fui encarregado, no Conselho Estadual de cultura, de dar parecer sobre o tombamento do Cemitério dos Ingleses na Ladeira da Barra, muito justificado, sobretudo depois que em 1975 ocorreu o desaparecimento do mais significativo marco da presença britânica entre nós, a bela e antiga igreja anglicana do Campo Grande, a St. George’s Church, derrubada para a construção de um qualquer prédio de apartamentos. Essa iniciativa roubou à Cidade do Salvador um dos seus mais valiosos monumentos, desde 1853, sem que tivesse havido na ocasião ao menos um protesto. Falava esse monumental templo da numerosa presença, como ainda agora felizmente recordada por aquele cemitério, de súditos de S.M. britânica que viveram e trabalharam conosco, contribuindo para nossa cultura e civilização desde pelo menos a lendária abertura dos portos em 1808 pela Carta Régia do príncipe dom João, logo D. João VI, que, continuando a secular aliança luso-britânica, criou condições comerciais privilegiadas no País para os daquela nação. Quanto à Bahia pouco ou nada sabemos, a não ser alusões de Gilberto Freyre no livro Ingleses no Brasil (1948). Faz-se preciso que estudemos e analisemos nosso século XIX desse ponto de vista.

Texto extraído do artigo “Ingleses, árabes na Bahia” de Thales de Azevedo, médico, antropólogo e Professor Emérito da UFBa, publicado no jornal A Tarde em 4 de junho de 1993

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